A história de um cabideiro
No meu dia a dia, que já está com meio século de vida, acordo sempre olhando aquelas camisas penduradas no trinco da porta... e sempre me cobrava para comprar um cabideiro top para colocar lá no meu quarto.
Há uns dois anos atrás, comecei a procurar um para comprar, pois sabe como é difícil eu gastar algum dinheiro...rs.rs.rs.rs... tem que ter um tempo longo para se desapegar do dinheiro guardado em baixo do colchão.
Inicialmente pesquisei aqueles vendidos pelos camelôs, que custam cerca de R$ 40,00. Mas, achei muito comum, sem falar que eram todos iguais e todo mundo tinha um deste, seja em casa ou nos escritórios.
Depois comecei a procurar nas grandes lojas. Um dia fui na Leroy Merlin e lá encontrei vários modelos: alguns de metal, por R$ 120,00; outro muito bonito de madeira lisa, imitando uma árvore, só que o preço um pouco salgado, em torno de R$ 200,00. Achei demais para pendurar minhas camisas, como não tenho pressa para gastar, resolvi esperar...tinha certeza que um dia ia aparecer um, seja usado ou doação...rs.rs.
Como fazendo mais ou menos 8 meses que me tornei sócio do OLX, ou seja viciado em ver tudo que vende lá...já comprei lá: bicicleta, computador, contaneir, porta, calça...e decidi também olhar lá se tinha cabideiros. Então, abro o OLX e já no primeiro dia encontro vários cabideiros, desde R$ 15,00 a 300,00. Entre eles, imaginem, tinha aquele que eu tinha gostado lá na Leroy, pelo preço de R$ 50,00. Fiquei louco e comecei a negociar com o vendedor. Ofereci R$ 40,00 e ele não aceita. Diz que se for o caso me entrega na minha casa por R$ 60,00 ... acho que ele pensou que eu não tinha carro, mas tudo bem, ele não sabia que possuo uma nave estelar, com 33 anos, minha super parati para buscar.
Como estava no trabalho, acabei comentando sobre o assunto, ou melhor meus amigos de trabalho participaram deste grande dilema meu: comprar ou não o cabideiro. Como era quinta feira, eu gostaria de já ir de carro ver e se fosse o caso já comprar...confiante que se fosse para ser meu o cara não venderia. Resolvi ligar para ele e dizer que iria lá no domingo. O vendedor me avisa que eu ligasse para ele no sábado e que se não tivesse vendido me passaria o endereço.
Passa sexta, sábado de trilha e a noite peço emprestado o telefone da namorada, o único que tem zap - a qual já reclama, dizendo que vai cobrar pelo uso do zap, mas tudo bem - envio uma mensagem para o vendedor e para minha surpresa, responde que já tinha vendido na sexta feira. Coloca na mensagem uma carinha de triste... minha namorada estranha a colocação da carinha, mas eu não, pois tudo mundo usa figurinha (acho que é emocion) nas mensagens.
Desligo o celular e me dá uma crise de autocobrança:
- Porque não fui na quinta, comprava e depois ia buscar?
- Estou ficando velho e demorando para tomar atitude!
- O que está acontecendo com minhas decisões, ou talvez indecisões que estão mais lentas?
Comento com minha namorada todas estas questões e vou dormir.
No domingo, já bem diferente, curto da minha cara, fazendo críticas da minha atitude, ou seja me chamando de “burro, otário”, pois me cobro muito quando não tenho atitude...coisas de homem ogro que tudo quer resolver na hora...rs.rs.
Chega a segunda feira, mais tranquilo, pois não choro por leite derramado, chego ao trabalho e comento com o pessoal sobre o acontecido. Pergunto como eles gostariam de escutar o desfecho da história, que poderia ser de 2 formas:
1 – síndrome do vira-lata, que está impregnada nos brasileiros, ou seja, de coitadinho, perseguido ou seja o mundo o persegue…que seria mais ou menos assim. Perdi o cabideiro, porque botaram olho gordo na minha aquisição, não deveria ter falado sobre ele com o pessoal, todo mundo tem inveja de mim, só queriam meu mal, ficaram desejando o meu cabideiro.
2 – síndrome americana ( we can – nós podemos ), no meu caso, eu posso, usada por Barack Obama, na campanha presidencial. Todo americano pratica, ou seja, se consideram os melhores, indestrutíveis e tudo gira em torno deles. Perdi o cabideiro porque eu nem estava precisando mesmo, ele poderia ter defeitos, riscos, estava caro mesmo, vai aparecer um melhor ainda, quem perdeu mesmo foi o cabideiro por não estar comigo, em minha casa.
Meus colegas de trabalho, escutaram as duas formas, fizeram alguns comentários simples e continuamos trabalhando.
Para mim, caso encerrado, pois burro já tinha sido, agora bola para a frente!
Aí vem a terça feira, como de costume, abro a porta do setor no trabalho e cumprimento meus colegas:
- BOA TARDE, MEUS JOVENS......pois mesmo com nossa idade avançada, não somos velhos e sim jovens a mais tempo!!!
Olho para o canto e o que vejo ????!!!!!!!!
Um cabideiro do mesmo modelo que eu queria, deveriam ter comprado no OLX. Fico alguns segundos sem saber o que falar e olha que isto para mim é quase impossível.
Não estava acreditando que lá estava um cabideiro igual ao que eu queria e tinha perdido no OLX! De onde teria vindo? Por que estava lá? Será que a vida estava me passando um trote...
Retorno a realidade e pergunto aos colegas (Edelvan, Adriana, Patrik, Augustinho, Lucas, Martinez, Pedro, Suzana, Cintia, Marcelo, Angela) ... o que era aquilo, de onde veio este cabideiro? Estava completamente perdido, fora de mim, com aquela visão... E para minha surpresa, me informaram que tinham ligado e comprado o mesmo cabideiro do OLX. Tinham pedido para o vendedor não falar nada para mim e apenas dizer que tinha vendido.
Diante de tal situação, sinceramente fiquei muito emocionado e feliz, pois este cabideiro representa e será eternamente lembrado por sua história e também pelas simbologias que representa:
1 – O desprendimento do eu de cada colega, para um bem maior, num mundo onde se está só pensando em si mesmo. Ser abençoado com um atitude desta é coisa de Deus, maravilhoso!
2 – Muitas vezes, achamos que somente a gente tem as melhores histórias, ideias, que somos os mais expertos e tudo mais. E, aí vem uma situação desta, onde você simplesmente é colocado no chinelo, ou seja, as pessoas demonstram atitudes, ideias inacreditáveis, que você jamais pensaria nelas.
3 – Num ambiente de trabalho, onde convivo com 12 pessoas, cada uma com suas características e onde procuro passar sempre pensamentos positivos, elevação da auto estima, depoimentos de fé e superação, e por que não algumas loucuras... muitas vezes fico em dúvida sobre meu comportamento, se deveria ser mais retraído, fechado e se este comportamento meio louco, não estaria sendo interpretado como “exibido, superior, falso” ! Então, acontece isso! Para mim foi um sinal de que minhas mensagens positivas foram escutadas e assimiladas pelo ambiente. Meu objetivo maior sempre será levar às pessoas palavras de incentivo, superação, elevação da auto estima, de ver o mundo pelo seu lado positivo e acima de tudo depoimento de fé em meu Deus.
4 – O verdadeiro valor do cabideiro: para mim ele se tornou sem preço, ou seja, não venderei ele por valor nenhum, pois ele vai sempre representar uma atitude de carinho, de companheirismo e de superação, onde os ouvintes superaram o contador de histórias e o deixaram “fora da casinha”, sem reação...
Poderia continuar a expressar outras mil simbologias, mais é preciso ser breve!
Para finalizar, gostaria de dizer do fundo do meu coração, que foi muito legal! Me trouxe uma emoção que há muito não tinha sentido, que é o espírito de coletividade, onde não pensarmos apenas em si mesmos, mas em nós, onde todo mundo ganha, seja na alegria, no ambiente de trabalho, na vida espiritual e no dia a dia.....
Obrigado do fundo do meu coração aos jovens do meu trabalho!!!
Borboleta – em 04/07/2019.
historias borboletianas..
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